Hoje, sinto vontade de escrever.
Faz hoje dois anos. Há dois anos atrás, a minha vida estava prestes a mudar. E mudou de maneiras tão bonitas e ao mesmo tempo tão negras. Nem eu sabia o que aí vinha...
Hoje, estamos separados.
Já não dormimos juntos, já não tomamos o pequeno-almoço juntos, não cozinhamos, não vemos televisão, não lutamos pelo "urso", pelo edredon, pelas almofadas. Não gritamos o nome um do outro enquanto nos rimos, não contamos como foi o dia.
Hoje, faço balanço.
Penso em tudo aquilo que foi e que já não acredito que possa voltar a ser. Fomos, não seremos. Isso chateia-me. Fico frustrado ao pensar que quando comecei a sentir que era "isto", que tinha acertado, foi quando se iniciou o fim. Quando comecei a aceitar os convencionalismos, quando dei por mim a querer as tradições, foi quando me começaste a fugir. Quando me permiti pensar que, às tantas, sem sequer dar por isso, tinha encontrado "the one", iniciou-se uma derrocada morosa, mas fatal.
Hoje, tenho-te alguma raiva.
Porque me mudaste. Porque me fizeste perceber que o ideal era construído, não encontrado. O ideal não é o idealizado. Percebi que o ideal era sempre diferente do idealizado. E percebi isto para, no final, me dar conta que vou aplicar estas lições com outra pessoa... Foda-se.
Mas, hoje, não quero ter-te raiva. Nem recuperar sequer alguma amargura da qual já consegui ver-me livre. Quero pensar que foi bonito, e que, às vezes, foi lindo. Foi ideal. Mesmo que apenas durante uma fracção de tempo. Quero pensar naqueles primeiros dias, naqueles primeiros meses. Nas primeiras férias. Nos primeiros jantares. Nas primeiras noites. Deste-me romance a sério, sabes? Na verdade, o que me lixa mais é isso. Mesmo que só durante algum tempo, ou em alguns momentos, deste-me tudo o que eu queria e deste a sério.
Hoje, guardo isso.
Amanhã, se tudo correr bem, assim ficarei.